terça-feira, 16 de outubro de 2007

Aprendendo a crescer.



Crescera sempre rodeado de um carinho que sem saber explicar o porque, não era totalmente benéfico. Não que não gostasse de toda a atenção que lhe era dispensada, mas sentia como se aquilo tudo tivesse um preço.
Sentia sem saber, ou não queria sentir.
E esse preço de tudo era exatamente o peso que carregava nas costas sem que ninguém visse, talvez nem ele próprio soubesse que este o acompanhara já a tanto tempo.
Uma dívida que não poderia pagar.
Um peso de tudo que não havia como definir, e justamente por faltar maneiras para revelar aquela grande carga que afligia seus ombros, chegava a imaginar que ela não existia. Viveu parte da vida assim. Enganado.
Torcendo para que sua imaginação fosse criativa o bastante para fantasiar aquela enorme carga que ele torcia para que fosse só mais um delírio de sua mente em transformação.
- Sou jovem, sou tolo! Mais uma vez estou criando problemas pra mim! – repetia para si mesmo quando se pegava só, remoendo esses pensamentos aos quais ele já não dava crédito. Desejava que eles não fossem verdadeiros, e de fato vivia como se eles realmente não existissem.
E dava a seus dilemas uma resposta. Eram todos culpa de uma mente que não fazia mais nada além de pensar. Porque será que sua cabeça não parava de questionar a tudo e a todos inclusive a ele próprio?
Então sentiu-se culpado por pensar tanto, e em então pensou que talvez pensar não fosse tão boa idéia.
Ele quis parar de pensar, tentava sem êxito.
- Deve ser mesmo por causa disso que chamam de adolescência. – e então camuflava a culpa que sentia por pensar tanto a respeito daquilo que o incomodava, justamente porque mesmo que ele forçasse a mente a pensar o contrário, aquele peso era real.
Os conflitos existem, e não importa o quanto se corra, eles sempre conseguem alcançar-nos, onde quer que se vá. Eles estão pra fazer um reboliço no coração, e então mudar o que está imposto, que não é como a gente é.
E a mudança deve acontecer dentro de nós. Ela não precisa ser explícita, pra que o mundo todo veja e aplauda ou a repudie, mas tem que ser intensa, o suficiente pra que um espírito cansado depois de uma batalha, possa sentí-la e regozijar-se nela. Especialmente para Alfredo, este sentimento de reogozijo diante de uma mudança era necessário.
Há situações em que o motivo do conflito é fútil, e ele acaba não sendo tão proveitoso, podendo até mesmo deixar sequelas incuráveis. Mas a mente com o mínimo de equilíbrio sabe discernir quando o inevitável pode se tornar útil, e aprender a crescer diante do inevitável era o que Alfredo precisava, mas não poderia fazê-lo enquanto não admite-se para ele mesmo que alguma coisa não estava indo bem.
Não quer dizer que sempre haveremos de mudar tudo o que não é como a gente é, simplesmente por não existirem como nós, afinal somos seres capazes de respeitar, mas o limiar do respeito fica onde ele nos prejudica a alma, e quando esse limite é ultrapassado é hora de cuidar da alma atingida.
Nada pior que uma ferida de alma.
Mas a adolescência é uma fase, não dura pra sempre. Alfredo um dia cresceu.

Thábata.

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